- Hong Kong expande liquidez cripto para plataformas licenciadas
- China mantém proibição no continente, mas avança com e-CNY
- Stablecoins e indústria de hardware sustentam presença chinesa
Em entrevista ao 60 Minutes, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que “a China está entrando nesse mercado com muita força agora”, tratando o país como um competidor direto no setor de criptomoedas. A fala contrasta com a proibição imposta por Pequim em 2021 à negociação e à mineração, criando um aparente paradoxo para quem observa o tema de fora.
A desconexão se explica por três camadas que caminham em paralelo. No continente, a proibição segue válida, bloqueando transações domésticas, serviços de intermediação e o acesso a plataformas estrangeiras. Ao mesmo tempo, Hong Kong adota um regime permissivo, com licenciamento para exchanges, acesso de varejo e ETFs spot de Bitcoin e Ethereum, além de autorizar conexão a pools de liquidez globais, reduzindo spreads e tornando as plataformas locais alternativas competitivas.
A segunda camada é a moeda digital do banco central. O e-CNY opera como dinheiro estatal programável, centralizado e rastreável, com adoção em pagamentos de varejo, desembolsos públicos e liquidações corporativas. Hong Kong já aceita e-CNY no comércio, o que reforça a percepção de liderança digital, embora a CBDC não compartilhe a filosofia de redes abertas como o Bitcoin ou de finanças descentralizadas.
A terceira frente é o mercado cinza de stablecoins. Exportadores chineses vêm usando USDT para liquidar transações internacionais, driblando a lentidão bancária e os controles de capital. Canais de comércio com países sob sanções também aceleraram o uso de dólares digitais, sustentando fluxos que o sistema financeiro formal não processa com a mesma agilidade.
Há ainda o componente industrial. Mesmo com a repressão à mineração no continente, a fabricação de ASICs permanece sob influência de empresas chinesas, mantendo o país integrado à infraestrutura global de criptomoedas. A presença na cadeia de suprimentos garante relevância, independentemente do nível de mineração doméstica.
Assim, quando Trump trata “China” como um bloco único, ele mistura políticas distintas. A competição que descreve ganha forma na soma de Hong Kong com liquidez internacional, a infraestrutura de CBDC de Pequim e o uso disseminado de stablecoins por empresas. O que ele chama de “entrar de cabeça nisso” reflete menos uma reversão de proibição e mais uma estratégia multifacetada de participação nos mercados digitais sem liberar a especulação varejista no continente.














