Bitcoin e Ethereum são reconhecidos como as duas principais criptomoedas no mercado, tendo um papel fundamental no desenvolvimento deste setor. O Bitcoin, pioneiro no mundo das criptomoedas, é frequentemente comparado ao ouro, sendo chamado de “ouro digital” ou “ouro 2.0”. Por outro lado, o Ethereum é comparável a um computador global descentralizado.
A analogia do Bitcoin com o ouro digital advém de suas características de escassez e durabilidade, similares às do metal precioso. Além disso, destaca-se pela facilidade de armazenamento e divisibilidade. O Ethereum, por sua vez, é equiparado a um computador descentralizado devido à sua capacidade de rodar aplicativos descentralizados (DApps), que operam independentemente de uma autoridade central.
Em termos de capitalização de mercado, endereços de carteira únicos e volume de negociação em exchanges de criptomoedas, Bitcoin e Ethereum lideram o mercado. A capitalização de mercado refere-se ao valor total de mercado da oferta circulante de uma criptomoeda. Já os endereços de carteira são sequências de caracteres únicas que funcionam como contas na rede de uma criptomoeda.
Bitcoin e Ethereum possuem características comuns, como a base em um sistema de registro distribuído conhecido como blockchain, a possibilidade de serem guardados em carteiras digitais e serem negociados em exchanges de criptomoedas. Ambos utilizam endereços alfanuméricos e são descentralizados, ou seja, não são emitidos nem regulados por bancos centrais ou outras autoridades financeiras. Em vez disso, são mantidos por uma rede de computadores, chamados nós, que asseguram a sincronização e segurança da rede.
Apesar das semelhanças, Bitcoin e Ethereum têm diferenças marcantes, gerando debates sobre a natureza de sua relação, se são concorrentes ou complementares. O Bitcoin é frequentemente utilizado como reserva de valor e ativo de proteção em tempos de incerteza econômica. Enquanto isso, o Ethereum é mais usado para interagir com aplicativos na blockchain Ethereum e acessar serviços financeiros descentralizados (DeFi). Assim, o Bitcoin serve como uma opção para preservar valor e segurança, enquanto o Ethereum oferece acesso a um espectro mais amplo de serviços financeiros e aplicativos descentralizados.
O que é Bitcoin (BTC)?
Bitcoin representa a primeira criptomoeda desenvolvida, operando de forma independente de qualquer entidade centralizada. Criado por um indivíduo ou grupo sob o pseudônimo Satoshi Nakamoto, o bloco inicial de seu blockchain, denominado bloco gênese, foi minerado em janeiro de 2009. Desde então, o Bitcoin tem experimentado um crescimento constante em sua adoção. Sua concepção foi como um sistema eletrônico de dinheiro no formato peer-to-peer (P2P), permitindo transações diretas entre usuários, sem a necessidade de uma autoridade central.
O blockchain do Bitcoin surgiu de um white paper publicado por Nakamoto em 2008. Este sistema inovador oferece aos usuários a possibilidade de gerir uma moeda digital fora da esfera de controle de governos, bancos ou outras instituições financeiras. Funciona com base em uma rede descentralizada de usuários executando o software do blockchain do Bitcoin, seguindo um conjunto de regras acordadas por todos os participantes da rede. Este software define as normas para a execução das transações, o tempo necessário para a liquidação das mesmas, um limite máximo de fornecimento de 21 milhões de BTC, entre outros aspectos.
O Bitcoin é pioneiro no uso da tecnologia de registro descentralizado (DLT) conhecida como blockchain. Esta tecnologia soluciona problemas como o dos Generais Bizantinos, que ilustra o desafio em sistemas descentralizados de alcançar um consenso sobre uma única verdade. Para enfrentar este problema, o Bitcoin utiliza o método de prova de trabalho (PoW) e um blockchain. Neste sistema, mineradores, comparáveis aos generais bizantinos, trabalham para validar transações, as quais são comparáveis às comunicações entre os generais.
O blockchain do Bitcoin é público e contém um histórico de todas as transações realizadas, sendo distribuído por uma rede de nós para prevenir adulterações. Caso uma versão alternativa do blockchain seja detectada, ela é rejeitada pelos outros participantes da rede, garantindo assim a segurança contra fraudes.
A detecção de adulterações é realizada através de sequências numéricas longas chamadas hashes, que devem ser idênticas em todos os nós. A rede Bitcoin processa dados e os converte em hashes usando a função hash SHA-256. Uma vez encontrado um hash válido, este é transmitido pela rede e adicionado a um novo bloco.
Mineradores no blockchain do Bitcoin criam e distribuem blocos utilizando o processo PoW, onde computadores empregam extensivas capacidades de processamento para realizar funções de hash. Este mecanismo de prova de trabalho permite que os participantes da rede alcancem um consenso.
A mineração e o consenso no Bitcoin asseguram que atores maliciosos não possam modificar os saldos de outros usuários ou realizar gastos duplos, mantendo a rede operacional com mínima interrupção. A natureza resistente a adulterações e a capacidade de realizar transações a qualquer momento, sem a necessidade de intermediários ou controle centralizado, contribuíram para o aumento da popularidade do Bitcoin ao longo dos anos.
Embora o Bitcoin tenha sido inicialmente concebido como um meio de troca, facilitando a aquisição de bens e serviços, ele também ganhou aceitação como uma reserva de valor, um ativo que mantém seu valor ao longo do tempo.
O que é Ethereum (ETH)?
Ethereum (ETH) representa uma evolução significativa no uso da tecnologia blockchain, indo além das transações monetárias, características do Bitcoin. Este sistema possibilita a criação de um computador descentralizado baseado em blockchain.
Um elemento-chave do Ethereum são os contratos inteligentes, que facilitam o desenvolvimento de aplicações descentralizadas (DApps). Estas aplicações operam independentemente de uma entidade centralizada. Em 2014, Vitalik Buterin e outros cofundadores, incluindo Gavin Wood, Jeffrey Wilcke, Charles Hoskinson, Mihai Alisie, Anthony Di Iorio e Amir Chetrit, iniciaram a venda do Ether para angariar fundos para o projeto Ethereum. Eles também estabeleceram a Fundação Ethereum na Suíça, uma entidade sem fins lucrativos dedicada ao suporte da rede Ethereum.
Lançada em julho de 2015, a rede Ethereum se apresentou como um dos projetos mais inovadores no âmbito das criptomoedas, com o objetivo de descentralizar diversos aspectos da internet. Assim como o Bitcoin, o Ethereum opera em uma plataforma descentralizada, livre de autoridades centrais, utilizando o método de prova de trabalho (PoW) para prevenir adulterações no blockchain.
O Ethereum possui sua linguagem de programação própria, a Solidity, empregada para a programação de contratos inteligentes que são executados no blockchain. As possíveis aplicações do Ethereum são variadas, graças aos contratos inteligentes. Alguns dos principais usos do Ethereum podem ainda estar por ser descobertos, assim como ocorreu com plataformas como Facebook e Google, que surgiram anos após o advento da Internet. A inovação na rede Ethereum tem crescido exponencialmente, com DApps fornecendo uma gama de serviços financeiros, e os tokens não fungíveis (NFTs) são exemplos do que os contratos inteligentes permitem aos desenvolvedores criar. Enquanto o Bitcoin é amplamente utilizado como meio de troca e reserva de valor, o Ether é utilizado nas interações com aplicações na rede Ethereum. Transações, criação de contratos inteligentes e o uso de DApps requerem o pagamento de taxas em Ether. Com o aumento do valor do Ether, ele também começou a ser considerado uma reserva de valor.
Os DApps desenvolvidos na plataforma Ethereum possibilitam o uso do Ether e de outros ativos digitais de maneiras diversas, incluindo como garantia para empréstimos ou para emprestar a terceiros com o objetivo de obter juros. Neste contexto, a garantia refere-se a ativos oferecidos como segurança para o pagamento de um empréstimo. Por exemplo, um usuário pode depositar um valor em Ether equivalente a 1.000 dólares em um DApp para obter um empréstimo de 750 dólares, enquanto acumula juros sobre o montante depositado.
Principais diferenças entre Bitcoin e Ethereum
As redes Bitcoin e Ethereum, embora ambas baseadas em registros distribuídos e criptomoedas, diferem substancialmente em suas especificações técnicas. O Bitcoin é frequentemente comparado ao ouro digital, atuando como uma reserva de valor, enquanto o Ether é a moeda usada para alimentar a rede Ethereum e suas diversas aplicações.
Na rede Bitcoin, a emissão de novos tokens é possível através da camada Omni, uma plataforma desenvolvida para criar e negociar criptomoedas no blockchain do Bitcoin. A camada Omni tem sido utilizada principalmente para stablecoins. Já no Ethereum, os tokens são emitidos seguindo diferentes padrões, sendo o ERC-20 o mais notável. Este padrão estabelece um conjunto de regras para os tokens na rede Ethereum, incluindo funções essenciais que os desenvolvedores devem implementar, como a definição do fornecimento total de tokens, a administração de saldos de contas e a transferência de fundos entre endereços.
No que se refere às transações, as realizadas na rede Bitcoin são primariamente monetárias, mas podem incluir notas e mensagens anexadas, enquanto as transações no Ethereum podem conter código executável para a criação e interação com contratos inteligentes e DApps.
Outra diferença significativa entre Bitcoin e Ethereum é o tempo necessário para adicionar novos blocos à cadeia, que impacta diretamente no tempo de confirmação das transações. Enquanto os blocos no blockchain do Bitcoin são adicionados aproximadamente a cada 10 minutos, no Ethereum, este processo ocorre a cada 15 segundos.
Os formatos dos endereços de carteiras públicas também divergem entre as duas redes. No Bitcoin, os endereços começam com “1”, “3” ou “bc1”, enquanto os endereços no Ethereum iniciam com “0x”. Esses endereços funcionam como identificadores únicos, semelhantes ao Número de Conta Bancária Internacional (IBAN) usado pelas instituições financeiras.
Quanto aos algoritmos de consenso, Bitcoin e Ethereum originalmente utilizavam o método de prova de trabalho (PoW). No entanto, o Ethereum está migrando para um algoritmo de consenso de prova de participação (proof of stake), que depende da quantidade de Ether apostada pelos validadores de transações na rede. Esse sistema torna a rede mais eficiente em termos energéticos, reduz as barreiras de entrada para os validadores e fortalece a descentralização.
Além disso, o Bitcoin tem uma representação na blockchain Ethereum por meio de tokens ERC-20. Essa tokenização permite que os usuários mantenham o BTC enquanto utilizam DApps no Ethereum. As versões tokenizadas do Bitcoin na rede Ethereum são lastreadas em Bitcoin na proporção de 1:1, significando que cada token ERC-20 representando o Bitcoin tem um BTC correspondente em custódia. Essa abordagem possibilita que os detentores de tokens usem seu BTC em diversas aplicações, como empréstimos para ganhar juros.
Bitcoin vs. Ethereum: soluções de escalabilidade
Bitcoin e Ethereum enfrentam desafios de escalabilidade em suas redes básicas. O Bitcoin processa em média sete transações por segundo, enquanto a rede Ethereum lida com cerca de 30. Para efeito de comparação, sistemas como a Visa gerenciam aproximadamente 1.700 transações por segundo e têm potencial para escalar até 24.000. À medida que o uso dos blockchains de Bitcoin e Ethereum aumenta, ambos se aproximam de seus limites de capacidade, resultando em elevação nas taxas de transação quando a demanda excede a capacidade disponível.
Para resolver esses desafios, Bitcoin e Ethereum adotam abordagens distintas. O Bitcoin implementou o Segregated Witness (SegWit), uma atualização que separa certos dados do espaço limitado de cada bloco, otimizando o uso do limite de 1 MB de cada bloco Bitcoin.
Além disso, a rede Bitcoin está desenvolvendo uma solução de segunda camada, a Lightning Network, que permite transações rápidas e com taxas reduzidas. Nesta rede, os usuários criam canais de pagamento pré-financiados com BTC, que possibilitam a realização da maioria das transações fora do blockchain principal. A expectativa é que a Lightning Network possa suportar até 15 milhões de transações por segundo, com a ressalva de que apenas as transações de abertura e fechamento de canais seriam registradas na blockchain principal do Bitcoin.
Por outro lado, a Ethereum está implementando soluções de escalabilidade que funcionam tanto na rede principal quanto em redes de segunda camada. A principal estratégia da Ethereum é o Sharding, que visa reduzir o congestionamento da rede e aumentar o número de transações por segundo por meio da criação de novos blockchains, chamados “shards”. Este processo diminuiria significativamente os requisitos de memória e armazenamento de dispositivos executando o blockchain Ethereum, pois as cadeias de shards distribuiriam os recursos de computação necessários entre 64 redes diferentes.
As soluções de segunda camada da Ethereum envolvem servidores que agrupam transações antes de enviá-las para o blockchain principal do Ethereum. A maneira como essas transações são agrupadas e depois transmitidas varia entre as implementações. Outra abordagem de segunda camada para o Ethereum inclui as sidechains, que são redes independentes funcionando paralelamente à rede Ethereum. Elas permitem a troca de tokens entre redes e possibilitam o uso de aplicativos construídos em ETH com taxas reduzidas.
Assim, Bitcoin e Ethereum estão empregando múltiplas estratégias de escalabilidade para mitigar o congestionamento da rede e aumentar a quantidade de transações que podem ser processadas por segundo.
Conclusão
Em conclusão, ao explorar as diferenças entre Bitcoin e Ethereum, fica claro que, apesar de compartilharem a base tecnológica de blockchain e criptomoedas, eles se diferenciam significativamente em propósito, aplicação e inovação tecnológica. O Bitcoin, pioneiro no mundo das criptomoedas, estabeleceu-se como uma reserva de valor digital, comparável ao ouro, e é primariamente utilizado para transações monetárias e como um ativo de investimento. Por outro lado, o Ethereum vai além, funcionando como uma plataforma para contratos inteligentes e aplicações descentralizadas, impulsionando a inovação no campo das finanças descentralizadas e dos tokens não fungíveis (NFTs).
Tecnicamente, as duas redes adotam diferentes abordagens para resolver problemas de escalabilidade, com o Bitcoin concentrando-se em soluções como o SegWit e a Lightning Network, enquanto o Ethereum explora o Sharding e sidechains. Essas inovações buscam aumentar a capacidade de processamento de transações e reduzir as taxas, mantendo a segurança e a descentralização.
Em termos de consenso, o Bitcoin permanece firme com o método de prova de trabalho, ao passo que o Ethereum está transitando para o sistema de prova de participação, visando uma maior eficiência energética e acessibilidade.
A compreensão dessas diferenças é fundamental para investidores, desenvolvedores e entusiastas do setor de criptomoedas. Enquanto o Bitcoin continua a ser um marco importante no universo das criptomoedas como um ativo seguro e valioso, o Ethereum se destaca como uma força inovadora, abrindo caminho para novas aplicações e possibilidades no mundo digital. Assim, ambos desempenham papéis cruciais e complementares no ecossistema das criptomoedas, moldando o futuro das finanças e da tecnologia blockchain.