Diante de uma conjuntura financeira repleta de desafios e incertezas, o macro guru Hugh Hendry traz uma perspectiva perturbadora: a probabilidade de que os bancos dos EUA venham a impor restrições aos saques de dinheiro está aumentando, assim como o mercúrio em um termômetro. Essa afirmação pode parecer um tanto alarmante, mas, ao olhar mais de perto, faz sentido diante das políticas recentes adotadas pelo Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano.
Em recente entrevista à Stansberry Research, Hendry destacou como a política monetária restritiva do Fed tem moldado o cenário financeiro, o que consequentemente tem implicações para os clientes bancários. Um ano atrás, a ideia de restrições de saque parecia praticamente impossível, mas hoje, o especialista afirma que a situação mudou, e essa possibilidade está mais real do que nunca.
E por que isso está acontecendo? A resposta está na ação sem precedentes do Fed de aumentar as taxas de juros de maneira acelerada e de grande magnitude. Essa movimentação, que Hendry chamou de “loucura do Fed”, está criando um ambiente no qual manter todo o dinheiro no sistema bancário não parece mais prudente.
A verdade é que restrições de saque já ocorreram em outras partes do mundo. Durante a crise da dívida em meados dos anos 2010, por exemplo, restrições foram implementadas na Grécia e em Chipre. A Nigéria atualmente também tem limites para saques em dinheiro, medida projetada para retirar dinheiro do sistema antes de uma mudança planejada para uma economia totalmente digital.
Diante disso, Hendry prevê que os bancos dos EUA provavelmente testemunharão uma nova fuga de depósitos. Afinal, vivemos em um mundo onde um cliente pode sacar seus fundos pressionando um botão. O especialista ressalta que os aumentos de juros do Fed no ano passado tornaram atraente para os depositantes tirar seu dinheiro dos bancos e investi-lo em fundos do mercado monetário.
Portanto, se de um lado temos bancos presos a taxas pouco competitivas, do outro temos a facilidade de retirada de dinheiro e o atrativo de fundos do mercado monetário. Essa situação torna provável que mais dinheiro saia dos bancos, incentivado pelo próprio Fed. E essa é a verdadeira causa da possível restrição de saques: a necessidade de preservar a liquidez do sistema bancário.