A tecnologia de blockchain, embora seja um desenvolvimento relativamente recente, enfrenta desafios impostos pela evolução da computação quântica, especialmente no que tange a criptomoedas, tokens não fungíveis (NFTs) e o vasto leque de Aplicações Descentralizadas (DApps) que dela dependem.
A computação quântica, avançando a passos largos, utiliza princípios da mecânica quântica para desenvolver computadores capazes de processar questões extremamente complexas, até então inacessíveis para os computadores clássicos ou binários.
Considerados a futura vanguarda tecnológica, capazes de superar os supercomputadores atuais — máquinas de alto desempenho muito além dos computadores convencionais —, os computadores quânticos ameaçam os padrões de segurança estabelecidos, dada sua superioridade em processamento. Sua habilidade de desvendar enigmas de alta complexidade coloca em xeque a presumida inviolabilidade da blockchain.
A habilidade disruptiva da computação quântica abre caminho para vulnerabilidades em práticas de segurança digital, potencializando riscos de ataques contra criptomoedas e outras implementações blockchain, apesar da computação quântica estar ainda em sua fase inicial.
Compreender a potência dos computadores quânticos e os riscos que representam para aplicações baseadas em blockchain é crucial. À medida que o ecossistema global de criptos se aproxima de uma adoção mais ampla, desenvolvedores e empreendedores necessitarão explorar novos territórios em relação a algoritmos criptográficos e inovar para enfrentar as ameaças que emergem com o avanço da computação quântica.
O que é um computador quântico e como funciona?
A distinção fundamental entre computadores clássicos ou binários e os quânticos reside na maneira como cada um processa informações para representar números em cálculos complexos. Enquanto os primeiros usam bits para codificar dados em sequências de 0s ou 1s, os computadores quânticos empregam qubits ou ‘bits quânticos’, aproveitando fenômenos como a superposição quântica e o emaranhamento para codificar múltiplas possibilidades simultaneamente.
Para ilustrar, na representação de números entre 0 e 255, um computador clássico utilizaria oito bits, cada um armazenando um 0 ou um 1, para representar qualquer número individual dentro desse espectro. Por outro lado, um computador quântico pode representar todos os 256 números possíveis simultaneamente com apenas oito qubits.
Isso confere aos computadores quânticos uma capacidade superior de processamento, permitindo-lhes lidar com uma vasta gama de combinações e executar cálculos complexos a uma velocidade incomparável pelos supercomputadores mais avançados. Entretanto, esses sistemas quânticos, muitas vezes dependentes de componentes supercondutores que operam em temperaturas extremamente baixas, são sensíveis a interferências como calor e radiação eletromagnética, tornando-os suscetíveis a erros em ambientes menos que ideais.
O futuro da computação, portanto, parece estar num equilíbrio entre as capacidades já conhecidas dos computadores clássicos e o potencial inexplorado dos computadores quânticos, aguardando avanços que possibilitem seu uso rotineiro.
A IBM, por exemplo, já avançou nessa frente com o Quantum System One, que suporta um processador de 127 qubit. A perspectiva de computadores quânticos com 1.000 qubits ou mais está cada vez mais próxima, prometendo revolucionar a capacidade computacional além do que é atualmente possível com os supercomputadores mais potentes.
As criptomoedas são vulneráveis a ataques de computação quântica?
À medida que a computação quântica evolui, é provável que os primeiros dispositivos disponíveis no mercado sejam supercomputadores híbridos, combinando elementos de processamento clássico e quântico, com capacidades que variam de 50 a 1.000 qubits. O lançamento recente do IBM Quantum Osprey com 433 qubits demonstra o progresso contínuo nesta área.
Apesar do potencial teórico, a verdadeira “vantagem quântica” sobre a criptografia tradicional ainda depende de avanços significativos na estabilidade e velocidade dos qubits, sem mencionar a necessidade de estratégias eficazes para a supressão de erros.
Embora a computação quântica possa, em teoria, comprometer a segurança das criptomoedas, a realidade prática de um ataque bem-sucedido exige uma quantidade astronômica de poder computacional quântico. Por exemplo, comprometer a segurança da rede Ethereum requereria mais de 10 milhões de qubits. Ataques direcionados a transações individuais, conhecidos como ataques de trânsito, também enfrentam desafios significativos, dada a necessidade de executar o ataque dentro do breve intervalo antes da adição de um novo bloco à blockchain.
Diante desses desafios, a comunidade de desenvolvedores de blockchain tem a oportunidade de continuar a inovar e desenvolver novos algoritmos de assinatura criptográfica resistentes aos potenciais ataques quânticos, mantendo assim a segurança e integridade das criptomoedas.
Os computadores quânticos podem roubar Bitcoin?
Para comprometer a segurança do Bitcoin, uma entidade teria que mobilizar uma quantidade formidável de capacidade computacional quântica. Pesquisas da Universidade de Sussex indicam que seriam necessários aproximadamente 1,9 bilhão de qubits para violar a rede Bitcoin em um período de 10 minutos, uma façanha que implicaria a coordenação de milhões de computadores quânticos, algo distante da realidade atual.
Mesmo com uma potência computacional quântica ligeiramente menor, o tempo necessário para realizar um ataque se torna proibitivamente longo, proporcionando uma janela para neutralizar nós comprometidos e fortalecer a rede. Enquanto ataques diretos ao armazenamento parecem mais factíveis, criptomoedas como o Bitcoin devem adaptar-se, possivelmente através de atualizações em seu protocolo blockchain, para se defenderem contra tais ameaças.
Atualmente, o Bitcoin utiliza o algoritmo de assinatura digital de curva elíptica (ECDSA), que se baseia em chaves privadas e públicas para garantir a segurança dos fundos. Alterar o protocolo do Bitcoin para incorporar defesas mais robustas contra a computação quântica é um processo que exige consenso e tempo, devido à natureza descentralizada das blockchains públicas. Inúmeras iniciativas estão em andamento no espaço das criptomoedas para desenvolver tecnologias resistentes à computação quântica.
O futuro do Bitcoin em uma era de computação quântica provavelmente envolverá a transição para sistemas contábeis mais avançados e seguros, sustentados por algoritmos criptográficos inovadores.
A computação quântica irá aniquilar as criptomoedas?
Os computadores quânticos prometem revolucionar diversas áreas, desde a simulação molecular até o desenvolvimento de novos materiais e medicamentos. No entanto, também representam uma ameaça potencial às redes de criptomoedas e blockchains públicas, caso sejam utilizados para fins maliciosos.
Para que o blockchain permaneça viável na era quântica, será necessário evoluir para sistemas contábeis que sejam intrinsecamente resistentes a ataques quânticos. Estima-se que, nos próximos 10 a 15 anos, os computadores quânticos alcançarão a capacidade de desafiar a segurança das criptomoedas. Uma das soluções pode ser aumentar o tamanho das chaves criptográficas, embora a longo prazo, isso possa se tornar impraticável devido ao aumento paralelo do poder dos computadores quânticos.
Novos paradigmas criptográficos estão sendo explorados, incluindo criptografia baseada em rede e algoritmos resistentes a quânticos que são difíceis tanto para computadores clássicos quanto quânticos solucionarem. O objetivo é assegurar a segurança e a eficácia dos sistemas criptográficos contra as capacidades emergentes da computação quântica.
Portanto, enquanto a computação quântica não representa uma ameaça iminente às criptomoedas em seu estado atual, é imperativo que a comunidade de criptomoedas continue a inovar e adaptar-se para proteger contra futuros desenvolvimentos quânticos. A ênfase deve ser colocada em manter-se à frente das capacidades tecnológicas para garantir que as estruturas de governança descentralizadas das criptomoedas permaneçam seguras e confiáveis.
Conclusão
À medida que avançamos em direção a uma era definida pela computação quântica, o futuro das criptomoedas se encontra em um ponto crítico de transformação. Os avanços nesta tecnologia poderosa prometem mudanças significativas em vários setores, mas também apresentam desafios sem precedentes para a segurança das criptomoedas. A possibilidade de que os computadores quânticos possam, eventualmente, quebrar as criptografias que protegem moedas digitais como o Bitcoin e o Ethereum não é mais uma questão de “se”, mas “quando”.
No entanto, assim como a tecnologia quântica evolui, também evoluem as criptografias e os sistemas de segurança. A comunidade das criptomoedas, composta por desenvolvedores, pesquisadores e inovadores, está ativamente buscando desenvolver algoritmos resistentes à computação quântica e estratégias de defesa robustas. Essas inovações visam assegurar que as criptomoedas não apenas sobrevivam, mas prosperem nesse novo ambiente tecnológico.
O futuro das criptomoedas, portanto, parece não ser de extinção, mas de adaptação e inovação contínua. A corrida entre a segurança criptográfica e a computação quântica é emblemática da evolução tecnológica em curso: um ciclo sem fim de desafio e resposta. À medida que entramos nesta nova era, uma coisa permanece clara: a interseção entre criptomoedas e computação quântica será um terreno fértil para a inovação, trazendo consigo um futuro financeiro que é tão incerto quanto emocionante.